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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Jose Saramago - As intermitencias da morte

Aos 83 anos, José Saramago pensa na morte. E gosta. Em seu novo livro, As intermitências da morte, o vencedor do Prêmio Nobel de 1998, vai em direção contrária aos avanços da medicina, e ressalta a importância da morte. Não à toa, a obra surge nos dias de hoje, em que os índices de expectativa de vida são cada vez maiores e a sociedade vem buscando formas de se manter vivo e jovem, seja através de exercícios físicos, cirurgias plásticas, congelamento ou clonagem.

Partindo da premissa kafkiana o que aconteceria se…, Saramago cria um país onde, com a virada do ano, ninguém mais morre. Nem no primeiro dia do ano, nem no segundo, nem no terceiro. E por aí vai. A euforia é geral, bandeiras são colocadas à mostra para comemorar a eternidade. Mas logo os problemas começam a surgir. A velhice vai se prolongando, o corpo se esvaecendo sem nunca chegar ao fim. Hospitais e asilos ficam lotados, sistema de aposentadorias, funerárias e seguradoras em colapso. Como não há mortes, não pode haver ressurreição e sem isso a retórica da igreja perde sentido.

Enquanto os problemas vão se desenvolvendo, Saramago aproveita para dar suas alfinetadas. Mostra um jornalismo preocupado com as vendagens ao invés das notícias e o jogo de interesses que pauta a política, com cada grupo querendo sua parte do bolo. Mas é através da criação da máphia, encarregada de levar moribundos até o outro lado da fronteira para que descansem em paz, que o autor desmascara o poder, expondo a sua fragilidade perante os interesses econômicos.

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